segunda-feira, 21 de março de 2016

Esse estado de 'direito' serve a quem?


Não se enganem, o golpe da mídia não está só relacionada a conjuntura política atual. Os principais golpes da mídia passam desapercebidos e acontecem no dia-a-dia. Quando essa mídia usa suas notícias para manipular a opinião pública criminalizando a juventude negra, indígena e periférica a favor da diminuição da maioridade penal reforçando o racismo e sua violência. Quando sabemos bem, quem pagou, paga e vai pagar essa conta. Essa mídia dá golpe, quando criminaliza movimentos sociais, o direito de manifestação e greve de trabalhadores de diversas categorias. A mídia corporativa dá golpe, quando apoia a violência policial contra trabalhadores, professores e estudantes. Dá Golpe, quando se silencia diante de inúmeras chacinas nas diversas periferias do Brasil tomando como normalidade essas execuções genocidas, e ainda, criminalizando as vítimas.

 Óbvio que devemos nos colocar contra as arbitrariedades juristas/midiáticas seletivas e essa ondinha fascista branca, verde e amarela.


 Mas não temos um grande dilema em mãos? O estado de direito garante direitos a quem?  
Nunca garantiu plenos direitos a indígenas, negros e pobres. Pelo contrário, o estado de 'direito' continua sendo instrumento de extermínio desses povos, como foram regimes anteriores.

 Eis o dilema: nos manifestamos contra golpes, arbitrariedades, ditaduras, fascistas... Mas porque, e como, defender um estado de ´direito' feito de instrumento de extermínio de povos indígenas, negros e pobre?
 É esse estado que chacina e vai continuar chacinando  jovens negros nos morros, indígenas por suas terras e pobre nas quebradas. É esse estado que vai continuar expondo à violência mulheres no parto em hospitais. Os mesmos hospitais que negam socorro e atendimento apropriado aos nossos velhos e aos jovens baleados  e rotulados como bandidos pelo racismo. Um estado que tem o judiciário que condena arbitrariamente todos os dias nossos jovens por portar um pinho sol. Um estado que tem a polícia (e exército) que executam e arrastam uma mulher, mãe de família, pela via pública impunemente, que sequestra, tortura, mata e oculta o cadáver de um homem, pai de família. O mesmo estado que executa numa noite 13 jovens na Bahia, 30 pessoas em Osasco e dá medalha aos vermes que fizeram isso.
 Me diz como e porque defender isso? Estado de direito? Direito de quem? E pra quem?

Precisamos URGENTEMENTE de outro modelo de sociedade. Uma sociedade onde preconceitos não cabem, sem justiça com a balança pendendo para um lado em detrimento de outros, sem estado como instrumento de extermínio de povos historicamente injustiçados.

A dicotomia e complexidades estão postas a mesa, sirva-se.
Continuemos a marcha contra um golpe. Mas e os outros golpes diários? Estamos lutando exatamente contra que e a favor de que (ou quem)?
Esse estado de 'direito' serve a quem?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Aqui, nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo. Você Sabia?



Por Anderson Benelli


 Após ler o artigo de apresentação do Circuito cultural da cidade, publicado no dia 18/02/2016, me veio a reflexão que transcrevo abaixo: (Link da do artigo sobre a apresentação http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/9568/#ad-image-3)



Eu não pretendo falar por nenhum grupo ou coletivo, apesar de acreditar que muitos possam se identificar com o que vou manifestar, seria muita petulância e arrogância me colocar como a voz que representa uma coletividade tão diversa. Então, não me coloco aqui como representante de uma coletividade, mas como parte, uma pequena parte, um grão dessa coletividade. 


Nós da periferia somos muito ricos em cultura. Apesar do descaso constante do estado.

 Aqui nas periferias (se vocês ainda não sabem, mas sabem e se valem do uso disso), nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo e queremos ver também os nossos e as nossas artistas nos palcos reconhecidos e bem remunerados.

 É ótimo receber todas as atrações culturais possíveis. Porém, não queremos só receber de forma bancária atrações culturais escolhidas por outrem - O que leva a questão: quem faz e como se faz a curadoria desses artistas? Nós queremos ver nossos artistas, atores/produtores culturais nos palcos sendo contratados, remunerados, reconhecidos e tratados com o respeito merecido. Pois a periferia tem uma produção cultural diversificada, valorosa e muito rica construída na resistência, fazendo uma cena cultural efervescente onde as instituições estatais falharam e falham repetidamente em fazer.

 Então, seria muito bom um pouco de reconhecimento profissional aos nossos atores culturais.

 Repetindo, é ótimo receber nomes consagrados da cultura brasileira. Mas não basta só jogar as atrações lá, tem que divulgar e difundir para que a população saiba que haverá tal show em determinado lugar e possa realmente acessar e usufruir disso. Já que o dinheiro dos seus impostos está pagando o cachê dos artistas e tudo mais. Não adianta pagar cachês, merecidamente ou não, absurdos e o artista se apresentar só para os funcionários do espaço porque a população daquela comunidade nem ficou sabendo que teria algo, como repetidamente acontece.

 Além disso, que tal quando um desses artistas já reconhecidos e com carreira consolidada for contratado pra fazer um show na periferia X da cidade de São Paulo,  em contrapartida contratarem e fomentarem artistas locais como abertura?


 Afinal, são esses artistas locais que mantém uma cena cultural rica durante todo o resto do ano, e quase sempre não são remunerados por isso. Ou esses mesmos artistas servem para subir no palco sendo explorados todo o ano, mas não servem para subir no mesmo palco sendo remunerado? Enquanto, de vez em nunca, aparece um artista consagrado pra fazer show e muito bem remunerado.

 Não era pra ser papel do estado equilibrar a balança? Intervir para garantir igualdade de  oportunidades? Eu sei é esperar muito que o estado cumpra, o que deveria ser, o seu papel. É esperar muito de uma instituição burguesa e seus políticos com campanhas patrocinadas por empresas de iniciativa privada com acordos e cargos de confiança como moeda de troca em contrapartida.
 E não venha me dizer que os pouquíssimos editais preenchem essa lacuna, porque não preenchem. Os míseros editais não garantem um real reconhecimento e remuneração pelos trabalhos culturais prestados por nossos artistas e produtores culturais, no máximo uma pequena, muito pequena mesmo, ajuda de custo. Muito menos processos de licitações feitos pela internet. 


 Muitos dos nossos artistas e produtores locais e seus trabalhos são tão enriquecedores, culturalmente falando, quanto qualquer outro nome aclamado da cultura do nosso país. São tão profissionais quanto. Porém, as instituições estatais, onde elas falham ou não querem atender, se valem das ações culturais dos agentes culturais locais para preencher essa lacuna - pois o acesso e estimulo a cultura é um direito humano que é dever do estado - mas não reconhecem e quase nunca os tratam como profissionais trabalhadores da cultura os remunerando por isso. A união, estados e municípios fazem dessa prática mais um tipo de exploração se beneficiando com tais ações por essas fazerem o papel que deveria ser do estado.

 É revoltante ver as instituições estatais alimentando a gulosa, ambiciosa e bilionária indústria cultural pragmática. Enquanto os/as artistas e produtores culturais das periferias, que não contam com uma gulosa e ambiciosa indústria cultural por trás, mas mantêm culturalmente esses espaços institucionais o ano inteiro, ano após ano com trabalhos de excelência (estando ou não dentro de seus prédios). Mas continuam menosprezados e explorados por essas instituições e seus sistemas burocráticos criados para os deixarem de fora na hora de repartir o bolo.

 Por isso, seria uma felicidade eufórica, se nós moradores da periferia pudéssemos ver nos palcos de nossas cidades, nas periferias e no centro, tratados com respeito, remunerados e reconhecidos como profissionais competentes da cultura que são, os nossos e as nossas artistas de todos e mais variados gêneros e segmentos possíveis. Ao invés, de só recebermos de forma bancária esses artistas de renome reconhecidos, por merecimento ou não, nacionalmente e até internacionalmente, como uma forma de engorda financeira de empresas da iniciativa privada e contrapartida de apoio político partidário.

 Para finalizar esse desabafo manifesto repito:
Aqui nas periferias (se vocês ainda não sabem, mas sabem e se valem do uso disso), nós fazemos cultura diversificada, de todos os gêneros com qualidade e profissionalismo. E queremos ver também, por obséquio, os nossos e as nossas artistas nos palcos sendo fomentados, reconhecidos e bem remunerados.